Como escolher a placa-mãe

A placa-mãe é a base do seu desktop. Ela é responsável pela comunicação entre todos os componentes internos, como a CPU, a memória, o SSD e a placa de vídeo, e também os periféricos, como teclado, mouse, caixas de som e fones de ouvido. Além disso, ela também recebe energia da fonte e redistribui para estes componentes. Por isso tudo não é a toa que ela é essencial em qualquer desktop. Mas como escolher aquela que precisamos? Vale a pena gastar mais nos modelos mais caros? O que devemos ter em mente na hora de decidirmos por uma, e ficarmos tranquilos de estarmos fazendo a compra certa? Vou tentar responder estas dúvidas aqui com um passo a passo para ajudar nesse processo levando em conta as opções e preços atuais do mercado.

1) Decidir pelas CPU e placa de vídeo

Sim, antes de escolher a placa-mãe. Isso porque cada placa-mãe é compatível apenas com algumas CPUs e indicada apenas para determinadas placas de vídeo. Como estas peças são mais relevantes do que a placa-mãe para determinar o desempenho e o preço final do desktop, o ideal é começar por elas, e depois decidir por uma placa-mãe adequada.

2) Achar um chipset adequado

O chipset da placa-mãe funciona ao lado da CPU para gerenciar a comunicação entre componentes e periféricos. Os componentes mais rápidos como memória e placas de vídeo se comunicam diretamente com a CPU, enquanto outros passam antes pelo chipset. Cada CPU é compatível apenas com determinados chipsets, então sabendo a CPU já saberemos quais chipsets podemos usar. E sabendo a placa de vídeo poderemos escolher os chipsets mais adequados de acordo com a geração PCIe.

Soquete da CPU
Os soquetes mais relevantes para gaming PCs no momento são esses:
AM4 para CPUs AMD Ryzen séries 4000 e 5000,
AM5 para AMD Ryzen séries 7000 e 9000,
LGA 1700 para Intel Core de 12ª, 13ª e 14ª geração, e
LGA 1851 para Intel Core Ultra série 200

PCIe da placa de vídeo
Para a placa de vídeo e a CPU poderem trabalhar no máximo de suas capacidades, é importante que a placa-mãe permita uma boa velocidade de comunicação entre elas. Essa comunicação é feita pelas vias PCIe que vão do principal slot PCIe x16 (de 16 vias) da placa-mãe até a CPU. Atualmente esse slot pode ser das gerações PCIe 3.0, 4.0 ou 5.0, todas compatíveis fisicamente com as anteriores, mas dobrando de velocidade máxima a cada geração. A PCIe das placas de vídeo variam de geração e também de quantidade de vias utilizadas (16, 8 ou 4). A velocidade de conexão será a da menor geração entre essas 3 partes, e a quantidade de vias utilizadas também será a menor. Por exemplo, uma CPU com PCIe 4.0 x16 em uma placa-mãe PCIe 3.0 x16 e uma placa de vídeo PCIe 4.0 x8 irão se comunicar em 3.0 x8. Dependendo da placa de vídeo isso pode prejudicar sua performance, então na maioria das vezes, o ideal é termos CPU e placa-mãe com PCIe x16 numa geração igual ou acima da placa de vídeo.

PCIe do SSD M.2 NVMe
Tem ainda mais uma peça nesse quebra-cabeça PCIe. O SSD M.2 NVMe também usa vias PCIe para se comunicar diretamente com a CPU pela placa-mãe. Em um gaming PC ter um SSD usando PCIe 4.0 ou 3.0 já é suficiente, pois a velocidade dele só influencia a instalação e carregamento dos jogos, e raramente vai afetar a velocidade durante o jogo. Felizmente tanto os SSDs M.2 NVMe, quanto a grande maioria das CPUs disponíveis, e também quase todas as placas-mãe vão trabalhar em PCIe 3.0 x4 ou superior. Se quisermos garantir uma PCIe 4.0 ou 5.0 para o SSD então precisamos confirmar se a placa-mãe e a CPU têm essas 4 vias PCIe nessas gerações.

Memória
A versão DDR das memórias é determinada pela placa-mãe e pela CPU. Placas-mãe AM4 sempre usam DDR4, AM5 e LGA 1851 usam DDR5, e as LGA 1700 usam DDR4 ou DDR5. Nesse último caso é importante verificar com qual dos 2 a placa-mãe é compatível.
As placas-mãe costumam ter 2 ou 4 slots de memória, que se comunicam com a CPU através de 2 canais separados, com 1 ou 2 módulos de memória em cada canal. Para um gaming PC o melhor é ter 1 módulo em cada canal. Para atividades como edição de vídeos e 3D, nas quais é mais importante estabilidade e quantidade de memória, pode ser melhor ocupar 2 em cada e ocupar 4 slots.

Finalmente com estas informações podemos afunilar a alguns chipsets mais relevantes para um Gaming PC, e fazer algumas recomendações de acordo com a CPU, memória e placa de vídeo:

CPUsSOQUETEMEMPCIe da placa de vídeoCHIPSETPreço*
AMD Ryzen 4600G, 5600G e 5600GTAM4DDR4GPU Vega integrada ou placa dedicada com PCIe 3.0AMD A520R$450
AMD Ryzen 5600 até 5800X3D, exceto as 5700, 5700G e as acimaAM4DDR4PCIe 4.0 ou menosAMD B550R$800
Intel Core i3-12100F, i5-12400F e similaresLGA 1700DDR4 PCIe 4.0 ou menosIntel H610R$600
Outras Intel Core de 12ª, 13ª e 14ª geração, como i5-14400F e i7-12600KFLGA 1700DDR4PCIe 4.0 ou menosIntel B760R$750
Outras Intel Core de 12ª, 13ª e 14ª geração, como i5-14400F e i7-12600KFLGA 1700DDR5PCIe 5.0 ou menosIntel B760R$850
AMD Ryzen séries 7000, 8000 e 9000AM5DDR5PCIe 4.0 ou menosAMD B650R$1.050
Intel Core Ultra série 200LGA 1851DDR5PCIe 5.0 ou menosIntel B860R$1.650
AMD Ryzen 7 ou 9, séries 7000 e 9000AM5DDR5PCIe 5.0 ou menosAMD B650E ou B850R$2.000

*Média aproximada dos menores preços das placas-mãe com esses chipsets.

Claro que existem muitos outros chipsets em placas-mãe à venda hoje em dia, mas para um Gaming PC estes acima são os que indico pelo custo-benefício e adequação às outras peças. Por exemplo, placas-mãe com chipsets AMD A620 para AM5 são mais baratas do que as B650, porém elas são bem limitadas em recursos, e muitas limitam a quantidade de energia enviada para a CPU em menos de 100W. Isso significa que elas devem funcionar bem com CPUs de 88W como a Ryzen 5 7600, mas podem prejudicar a performance de uma Ryzen 5 7600X de até 142W, e isso acaba deixando muito pouco espaço para futuros upgrades. Como um PC com AM5 vai custar pelo menos R$6.000, não acho que vale a pena economizar cerca de R$300, a não ser que tenhamos certeza de que não vamos querer trocar de CPU no futuro. Já no caso de PCs onde se busca economizar ao máximo, usar placas-mãe com chipsets mais simples como Intel H610 ou AMD A520 faz sentido, mas se quisermos gastar um pouco a mais para termos espaço para troca de CPU ou placa de vídeo no futuro pode valer a pena já usar Intel B760 ou AMD B550.

Também não recomendaria placas-mãe tipo Z para Intel, ou tipo X para AMD por serem muito mais caras e possuírem muitos recursos que normalmente não precisamos em um gaming PC. Criadores de conteúdo, por outro lado, podem preferir essas mais caras justamente por sempre usarem esses recursos. E os entusiastas de overclock que forem usar CPUs Intel desbloqueadas precisam escolher placas-mãe com chipsets Z690, Z790 ou Z890.

3) Verificar outras conexões

Cada fabricante costuma lançar várias placas-mãe para cada chipset. Geralmente, as placas-mãe com os chipsets da tabela acima possuem o básico que precisamos para gaming PCs. Mas se quisermos mais conexões, mais velocidade, ou placas maiores vamos pagar mais caro. Essas variáveis também afetam a escolha de gabinete, cooler, fonte e periféricos. Explico um pouco melhor abaixo.

USB
As placas-mãe têm pelo menos 6 portas USB na parte de trás, e pelo menos 2 headers para conectar nas portas USB na frente do gabinete. Isso já é suficiente para os periféricos, como mouse, teclado, caixas de som USB, fones de ouvido USB e pen drives. Headers para USB-C de até 20 Gbps são mais comuns nas placas mais novas, e vale a pena usá-las com um gabinete que também tenha porta USB-C para não desperdiçar a comodidade.

Áudio
Também na parte traseira sempre teremos ao menos 2 conectores de áudio de 3.5mm, tipo P2, para caixas de som e microfones, além de um header interno para conectar no painel frontal do gabinete, útil para plugar um fone de ouvido. As linhas mais sofisticadas de placas-mãe podem ter 6 conectores na traseira, incluindo digitais S/PDIF, e tratamento melhorado de áudio, mas nada que normalmente realmente valha a pena nos preocuparmos. Mesmo com os melhores áudios onboard das placas-mãe, os audiófilos mais exigentes vão precisar de um bom amplificador externo ou uma placa dedicada de áudio profissional.

Vídeo
As placas-mãe mais simples de hoje já tem porta HDMI 2.0 com resolução máxima de 4K em 60Hz. Ótima para quem for jogar usando GPU integrada, ou para resolver problemas quando a placa de vídeo dedicada não estiver dando sinal. Algumas ainda têm conexões DVI e D-Sub (VGA), enquanto as mais novas têm Display-Port. De qualquer forma, tendo uma placa de vídeo dedicada, vamos sempre preferir usar as saídas de vídeo dela.

Rede
As placas-mãe de hoje possuem ao menos uma porta Ethernet RJ-45 de 1Gbps para ligarmos o PC por cabo na Internet. Jogar online no Wi-Fi normalmente não é recomendado por conta das instabilidades, mas ter essa opção pode ser interessante até para outras tarefas. Já Bluetooth é útil para conectar periféricos sem precisar de adaptadores. Como as placas-mãe com Wi-Fi e Bluetooth costumam ser um tanto mais caras, e essas comodidades não são tão importantes em um PC para games, elas só são recomendadas em configurações onde essa diferença de preço é quase irrelevante ou, se estiverem pelo mesmo valor das que não tem.

PWM
A quantidade de conexões PWM para ventoinhas e cooler também pode ser importante dependendo do que você pretende instalar. Alguns modelos de liquid coolers usam 3 PWM, mas normalmente eles vêm com um splitter para ligar os 3 em 1 porta PWM na placa-mãe. As ventoinhas do gabinete também podem precisar de 1 conexão PWM cada, ou usar splitters. As placas-mãe mais simples costumam vir com 2 a 4 conectores PWM, suficiente para a maioria dos casos. E, sim, podemos ligar conectores DC de 3 pinos nas headers PWM de 4 pinos das placas-mãe, só que as ventoinhas DC não terão o controle melhorado que o sensor no 4º suporta.

LEDs
Para quem pretende conectar LEDs de ventoinhas, de gabinete e de coolers na placa-mãe, é bom dar uma olhada nas conexões RGB e A-RGB das placas-mãe. Enquanto algumas não têm nenhuma, a maioria tem 2, e as mais caras chegam a ter mais de 4 ou mais. E mesmo que a placa-mãe não tenha, muitos gabinetes com LEDs costumam ter um botão neles mesmos para controlarmos os efeitos, independentemente da placa-mãe. Lembrando que os conectores RGB (4 pinos, 12V) e A-RGB (3 pinos, 5V) não são compatíveis.

Energia
Outra conexão importante das placas-mãe são os slots de 8 (4+4) pinos EPS. Eles recebem energia diretamente da fonte, e servem para fornecer energia adicional para a CPU. A maioria das placas-mãe precisa de 1 ou 2 destes conectores, e precisamos verificar se a fonte terá esses 2 para garantirmos que não faltará nada para a CPU funcionar no máximo. As placas-mãe atuais tem também a conexão principal de 24 pinos para ligarmos nas fontes, mas como todas as fontes também tem essa conexão, não é algo que precisamos nos preocupar muito na hora de escolher essas peças.

VRM
Falando sobre energia, o VRM é o módulo regulador de voltagem, responsável por controlar a energia que é enviada pela placa-mãe para a CPU. A qualidade do VRM e seus dissipadores de calor influencia diretamente a performance da CPU instalada na placa-mãe. Uma CPU que precisa de muita energia vai fazer o VRM trabalhar mais, e esquentar mais. Se ele esquentar muito a placa-mãe precisa reduzir a quantidade de energia sendo enviada para a CPU, e isso reduz a performance do seu desktop como um todo. Este é o efeito conhecido como thermal throttling. Normalmente as fabricantes de placas-mãe não divulgam informações suficientes sobre a qualidade de seus VRMs, e por isso dependemos de analistas especializados que testam as placas para divulgarem os resultados. Hardware Unboxed é um canal do Youtube que faz estes testes, como nesses vídeos aqui e aqui. As placas-mãe sem dissipador de calor sobre o VRM não são recomendáveis para as CPUs que mais precisam de energia como as Core i7 e i9, e as Ryzen 7 e 9, mas mesmo aquelas que tem dissipadores podem sofrer thermal throttling. Daí a importância de canais como esse para nos ajudar a escolhermos uma boa placa-mãe.

4) Escolher formato e marcas

Formato
O formato (form-factor em inglês) e tamanho da placa-mãe não alteram a performance, mas têm relevância no preço, na quantidade de conexões e na compatibilidade com o gabinete. As placas menores Micro-ATX são bem mais baratas no Brasil, enquanto as maiores do tipo ATX ou E-ATX costumam ter mais slots PCIe para placas de expansão, e também são de manutenção mais fácil, justamente por terem mais espaço entre os componentes. Mas nem todo gabinete suporta as maiores, por isso, antes de escolhermos uma placa-mãe devemos conferir se elas cabem no gabinete, ou escolher um gabinete que suporte a placa-mãe.

Marcas
Em relação às marcas de placas-mãe para desktops, temos hoje 4 taiwanesas bem reconhecidas: Gigabyte, MSI, ASRock e Asus. São as mais fáceis de se encontrar no Brasil, têm qualidade similar, e costumam fornecer atualizações de BIOS com frequência. As atualizações de BIOS resolvem bugs, aumentam a segurança, e providenciam compatibilidade com CPUs mais recentes, entre outras coisas, por isso a frequência de atualizações é importante na hora de escolher a marca da placa-mãe.

5) Verificar compatibilidade da BIOS

Com todas essas informações acima já podemos chegar em uma seleção mais razoável de placas-mãe que podemos escolher. E para chegar nos modelos finais falta uma confirmação. Precisamos ter certeza de que a BIOS da placa-mãe é compatível com a CPU. O que acontece é que, mesmo que o soquete e o chipset sejam compatíveis, as CPUs lançadas depois das placas-mãe podem não ser reconhecidas, e precisamos atualizar a BIOS ou o PC pode nem dar sinal de vídeo.

As placas-mãe mais recentes estão vindo com uma função para podermos atualizar a BIOS mesmo sem nenhuma CPU instalada, utilizando apenas um pen-drive com o arquivo da BIOS nova. Cada fabricante tem um nome para essa função: Gigabyte chama de Q-Flash Plus, Asus e ASRock chamam de BIOS Flashback, e a MSI chama de Flash BIOS Button. Possuindo essa função, basta que a placa-mãe seja compatível com a CPU em qualquer versão de BIOS. Se a placa-mãe não tiver essa função, e como infelizmente as fabricantes não informam qual a versão de BIOS que vem instalada nas placas à venda, precisamos considerar que a placa-mãe virá de fábrica com a versão mais antiga possível, e confirmar se essa já é compatível com a CPU que queremos usar. Isso pode ser feito pelo site da fabricante, especificamente na seção de suporte e compatibilidade, dentro da página da placa-mãe, e não na parte de suporte geral da fabricante que costuma ficar lá em cima nos sites. A última alternativa é usar uma CPU compatível para atualizar BIOS e depois trocar pela que queremos, e isso pode custar uma visita a uma assistência técnica.


Aqui na Abacoteca essa seleção de placas-mãe é feita na hora de gerar os níveis de Gaming PCs da página inicial para facilitar a vida de quem não quiser pensar muito no assunto, mas para quem curte se aprofundar um pouco, espero que esse artigo tenha ajudado. E, para quem quer escolher a sua, temos essa página com diversas placas-mãe e seus preços atuais nas principais lojas de hardware online.